#27 Um domingo qualquer
Rapidinhas da semana, do mês, da vida. Um pouco do que passou, do que assisti e do que li ou estou lendo
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**foto da capa desse artigo: arquivo pessoal Mariana Wechsler
| Quem vai cuidar da história que se repete?
Era pra ser só o fim da tarde. Um banho morno, uma janta simples, uma espera amorosa até os pais voltarem. Mas o tempo se estendeu, os dias viraram turnos inteiros, e agora aquela avó que sonhava com o sossego de quem já criou se vê de novo no centro da cena.
Ela pega na escola, prepara o lanche da tarde, o jantar, dá banho, e entre um desenho e uma história, segura a onda de mais um escândalo na hora de trocar a roupa.
A criança chora, grita, insiste. A avó suspira fundo: “Isso é falta de limite. No meu tempo, uma chinelada resolvia.”
Ela não é má, só está cansada e assustada. Porque a birra da criança toca no nervo da sua própria infância, na rigidez que a moldou, no medo que aprendeu a chamar de respeito e a verdade é que não dá pra julgar quem criou filhos em outro tempo onde não se falava de desenvolvimento do cérebro, nem se conheciam os estágios da autorregulação emocional, não se ensinava que birra é um pedido de ajuda, não de correção.
Hoje, a neurociência explica: até os 6, 7 anos, o córtex pré-frontal, responsável pelo autocontrole, ainda está em obra. Não é malcriação, é imaturidade a criança não manipula, transborda e precisa de adultos que a ajudem a voltar para o centro.
Mas pra fazer isso, o adulto precisa estar inteiro. E como estar inteiro, se se sente atingido, sobrecarregado, sem voz?
O avô ou a avó que cuida de netos como se ainda fossem pais, muitas vezes não o faz por escolha. Mas por amor e necessidade e esse lugar meio invisível, meio exigido, cobra um preço. Principalmente se não houver conversa, cuidado, respeito mútuo entre gerações.
Talvez seja hora de sentar juntos, pais, mães, avós, avôs. Todos cansados, todos tentando. Falar sobre o que está doendo, o que esperam uns dos outros e o que ainda carregam do passado que não querem repetir.
Porque se de um lado os avós acham que os pais não impõem limite, do outro os pais temem que os avós passem por cima do cuidado respeitoso que tentam construir. E aí, quem é que escuta a criança?
Ela que só quer ser acolhida no seu choro, no seu caos, no seu crescer, ela que precisa de raízes mas também de asas. Se quisermos mesmo formar crianças emocionalmente saudáveis, o segredo talvez esteja em acolher também quem cuida delas. Sem rivalidade, sem deboche, sem competição de quem sabe mais.
Talvez não se trate de convencer a avó de que ela “errou” no passado. Mas de convidá-la a fazer parte do presente. Mostrar que agora sabemos mais. E que com amor, ela pode ser ponte. Uma ponte entre o que fomos e o que queremos ser.
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A gente se encontra aqui.
Com carinho,
Mariana
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Quando o amor vem com ruído
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Em Por que o mal existe?
Por que o mal existe? O amor e a beleza têm um propósito?
Rabindranath Tagore (1861-1941) buscou responder a essas perguntas em seus trabalhos filosóficos. Ele foi um dos maiores poetas da história da literatura e o primeiro não-europeu a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1913.
Nascido na Índia, Tagore foi poeta, escritor, músico, filósofo, educador e pintor. Sua obra é humanista e espiritual, influenciou profundamente a cultura indiana e mundial.
Tagore via a alegria como um estado natural do ser humano e como a força que nos impulsiona a buscar a beleza e a verdade. Ele acreditava que a alegria pode ser encontrada nas coisas simples da vida, como a natureza, a música e o amor.
Para o poeta Tagore, o amor é a força mais poderosa do universo. Ele acreditava que o amor verdadeiro é incondicional e que nos conecta com o divino. O amor é a base da compaixão, da empatia e da justiça social. Ele via a vida como uma jornada de aprendizado e crescimento espiritual.
"A verdadeira religião é a realização da verdade em nós mesmos."
Ele acreditava que cada um de nós tem um potencial infinito e que devemos nos esforçar para alcançar a iluminação ou a sabedoria plena.
Em 1930, Einstein e Tagore se reuniram em uma casa de campo em Caputh, Alemanha, para discutir a natureza da realidade, da verdade e da consciência. A conversa, gravada e publicada em 1931 (trecho da entrevista em português | livro em inglês), oferece uma visão fascinante das diferentes perspectivas desses dois grandes pensadores.
Einstein, físico renomado, defendia uma visão objetiva da realidade. Ele argumentava que o mundo físico existe independentemente da mente humana e que a ciência pode revelar suas leis universais. Já Tagore, poeta e filósofo, defendia uma visão mais subjetiva da realidade. Para ele, a realidade é moldada por nossa percepção e experiência, e a verdade é uma busca pessoal e individual.
Os dois divergiram em pontos importantes, como a existência de Deus. Einstein, agnóstico, considerava a ideia de um Deus pessoal como uma ilusão humana. Tagore, por outro lado, via Deus como a manifestação da realidade última e da força criativa do universo.
Apesar das diferenças, a conversa entre Einstein e Tagore foi respeitosa e cordial. Ambos reconheciam a importância do diálogo entre diferentes perspectivas para a busca da verdade.
Alguns pontos principais da conversa:
Realidade: Einstein defendia uma visão objetiva da realidade, enquanto Tagore defendia uma visão mais subjetiva.
Verdade: Para Einstein, a verdade é universal e pode ser descoberta pela ciência. Para Tagore, a verdade é uma busca pessoal e individual.
Deus: Einstein era agnóstico, enquanto Tagore era religioso.
Consciência: Ambos concordavam que a consciência é um aspecto fundamental da realidade, mas divergiam em como ela se relaciona com o mundo físico.
A conversa entre Einstein e Tagore é um exemplo de como diferentes perspectivas podem contribuir para a nossa compreensão da realidade. É um diálogo instigante que nos convida a refletir sobre as grandes questões da existência humana.
“O crescimento de nossa alma é como um poema perfeito. A percepção de uma idéia infinita faz com que todos os movimentos se encham de significado e alegria.”
palavras do grande poeta indiano Rabindranath Tagore (1861–1941)
O ser humano é um ser naturalmente social, dizem os maiores pensadores desde os tempos em que a escrita começava a surgir. Por isso, concordo que muitas vezes permitimos que o Nós absorva o nosso EU.
Não é difícil deixarmos de revelar nosso verdadeiro EU para tentar se encaixar numa realidade ou verdade coletiva. Vamos deixando de lado o que somos como um indivíduo para nos sentir pertencendo a uma turma, a uma tribo, até a uma família.
Isso fica bem fácil de se ver entre os adolescentes. Nessa fase, mudamos tudo para conseguir pertencer a um grupo. Mudam-se cabelos, roupas, jeito de falar, atitudes e pensamentos. Vamos moldando uma máscara para servir ao coletivo que queremos ou precisamos pertencer.
Isso adoece qualquer pessoa.
Quando nos afastamos de quem realmente somos, o sofrimento é mais intenso e persistente.
Gosto de repetir para mim mesmo que podemos carregar muitas coisas, só não conseguimos carregar uma mala mais pesada que o nosso corpo. E nessa esfera da nossa vida, na parentalidade, é igual.
Esta foi uma das grandes aprendizagens que a maternidade me ensinou. Sou aquela pessoa que quer agarrar o mundo com os braços e que tem uma energia que parece infinita, mas só parece. Neste estilo de vida corrida que muitos ainda vivemos, aprendi que se quero passar bem pela minha vida, preciso me conhecer e respeitar meus limites.
Dentre outras coisas, o que a maternidade me trouxe foi conseguir compreender que eu posso ter meus próprios objetivos e que eu posso fazer coisas para mim, coisas que são possíveis dentro da minha realidade. Consegui transformar momentos que poderiam gerar frustrações em momentos de maior satisfação e alegria.
Busco seguir o caminho do meio e aceito quando um deslize acontece, e crio um plano para o que fazer após o erro. Para traçar esse plano, reflito sobre o que poderia ter sido feito de diferente para que o erro não acontecesse.
Tenho sempre em mente que, mesmo quando os deslizes, flutuações e equívocos acontecem durante o processo de mudança, isso não quer dizer que voltamos à estaca zero.
Lindo texto.
Que lindo, me emocionei! Obrigada! 🧡